sábado, setembro 16, 2006

Carta

Minha amada,
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Receba o amor desta carta com a sinceridade que escrevo: ninguém é mais querida, em meu coração, que tu. Quero-te bem; penso muito e ardorosamente em ti. E esse sentimento invade meu coração a tal ponto que minha respiração fica diferente, por enorme saudade ao teu lado. Que dizer, então, quando te deixo ou não a vejo?

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És querida, e tanto, que preciso desse teu calor para viver... Haveria de me ver imaginando-te nos braços, em minha vida; sonho silencioso da dança à pele e ao quente de tuas mãos; do momento perfumado por tua presença que retira do meu mundo todos os problemas do existir, me fazendo tão bem!

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Fizeste, talvez sem querer, sem saber, corte profundo em meu peito, com flecha embebida de tua face rosa serenada, em manhã pensativa à janela cheirosa de cedro. Imageou a lua, as estrelas e o próprio Sol ao teu rosto; e agora, já não a vejo em pensamento ou em mundo, sem suspirar internamente. Meus pensamentos perdem-se quando te acompanho, ao olhar-te, ao vê-la cantar comigo, em amiga doce e fiel. Quando sai, o coração acelera e pergunta aonde estás; tortura-se, sofre, louco para voltar a tê-la perto, todo o tempo... Quer a tua presença para colher as flores da tua face...

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Os pensamentos de amores inocentes, virginais e, também, a dor, voltam a mim em farpas agudas: pensas em mim? Queres-me como és querida por mim? Faz do teu olhar teu cão, a procurar-me, como faço eu?

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Não sei. Às vezes, a noite argêntea me convence que sim. Outras (e isso fere-me afiadamente), não: não sou para ti nada além de transeunte em olhar distraído... E essa inferiorização, às vezes me abate como chuvas límpidas a querer perfurar a pele com frias gotas: machuca-me e desfaleço, sôfregamente... Sinto arder-me em febre fria aprisionada no peito... Penso nessas horas que sou menos e não te mereço. E se parte de mim sabe que esse sofrimento não é por eu ser tão pequeno, mas por tua imensidão de amor em meu coração, ela também sente dilacerar-se em mágoa e dor... Sou menor. Pouco. Simples. E mesmo sentindo tão formosa e merecida amada, digna de todo pesar, deixo-me cair em desespero. Mas eis que basta um sorriso, até sem querer, até sem jeito, para absolver-me, me levar a tão grande felicidade, que penso que esse sentimento carrega tudo de bom e que não precisa de justificativas ou prêmios...

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Ah! Mas se tudo passa; se essa chama irá apagar-se, como tantos outros, meus e teus, ante o tempo implacável, e não mais existirá no futuro, ainda que ontem fosse tão forte e de grande claridade, saiba, sinta, provo-te, que hoje ele vive em constante, ocupa-me, preenche-me o pensamento do levantar-me ao adormecer, em fogo permanente, ao teu lado ou tua ausência.

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Escrevo-te, ousadamente, por que não quero, nunca, que em um dia de tarde fria, lágrimas possam verter até teus lábios corados. Mas se isso ocorrer – e essa é a minha maior razão de escrever-te -, quando não te restar ninguém a quem buscar bálsamo às tuas dores, servilmente, ajoelhado, ofereço-te minha vida, pra sempre, pra sempre, pra sempre...


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