domingo, setembro 24, 2006
Infinitas últimas palavras
Talvez por isso
Sempre ainda haja muito a te dizer
Como últimas palavras
Como infinitas últimas palavras
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E as principais são: eu te amo
Talvez por não te dizer isso
Todas as outras parecem ser rodeios
Como minha vida ao redor da tua casa
Como água de chuva em direção única...
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Para ocultar o que sinto
Digo tanto, muito
Pinto teu vestido
E teu olhar com letras e discursos vermelhos
Para que não veja
Não suspeite que eu te amo claramente
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Mas é verdade
Eu preciso te contar, também,
Que eu te amo
Eu te amo
Muito, ao extremo
E posso, simples
Como mais uma das loucuras
Divulgar na rádio
Em outdoors...
Mas hoje quero apenas escrever
"eu te amo" na tua mão...
sábado, setembro 16, 2006
AZUL
teu sorriso
tua blusa
tua saia
a colcha do teu leito
teu leite...
teu time
tuas veias
teu sangue
a lâmpada do teu quarto...
teu diálogo:
- Tudo bem?
- Sim. Você me responde, tudo azul...
Carta
Receba o amor desta carta com a sinceridade que escrevo: ninguém é mais querida, em meu coração, que tu. Quero-te bem; penso muito e ardorosamente em ti. E esse sentimento invade meu coração a tal ponto que minha respiração fica diferente, por enorme saudade ao teu lado. Que dizer, então, quando te deixo ou não a vejo?
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És querida, e tanto, que preciso desse teu calor para viver... Haveria de me ver imaginando-te nos braços, em minha vida; sonho silencioso da dança à pele e ao quente de tuas mãos; do momento perfumado por tua presença que retira do meu mundo todos os problemas do existir, me fazendo tão bem!
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Fizeste, talvez sem querer, sem saber, corte profundo em meu peito, com flecha embebida de tua face rosa serenada, em manhã pensativa à janela cheirosa de cedro. Imageou a lua, as estrelas e o próprio Sol ao teu rosto; e agora, já não a vejo em pensamento ou em mundo, sem suspirar internamente. Meus pensamentos perdem-se quando te acompanho, ao olhar-te, ao vê-la cantar comigo, em amiga doce e fiel. Quando sai, o coração acelera e pergunta aonde estás; tortura-se, sofre, louco para voltar a tê-la perto, todo o tempo... Quer a tua presença para colher as flores da tua face...
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Os pensamentos de amores inocentes, virginais e, também, a dor, voltam a mim em farpas agudas: pensas em mim? Queres-me como és querida por mim? Faz do teu olhar teu cão, a procurar-me, como faço eu?
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Não sei. Às vezes, a noite argêntea me convence que sim. Outras (e isso fere-me afiadamente), não: não sou para ti nada além de transeunte em olhar distraído... E essa inferiorização, às vezes me abate como chuvas límpidas a querer perfurar a pele com frias gotas: machuca-me e desfaleço, sôfregamente... Sinto arder-me em febre fria aprisionada no peito... Penso nessas horas que sou menos e não te mereço. E se parte de mim sabe que esse sofrimento não é por eu ser tão pequeno, mas por tua imensidão de amor em meu coração, ela também sente dilacerar-se em mágoa e dor... Sou menor. Pouco. Simples. E mesmo sentindo tão formosa e merecida amada, digna de todo pesar, deixo-me cair em desespero. Mas eis que basta um sorriso, até sem querer, até sem jeito, para absolver-me, me levar a tão grande felicidade, que penso que esse sentimento carrega tudo de bom e que não precisa de justificativas ou prêmios...
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Ah! Mas se tudo passa; se essa chama irá apagar-se, como tantos outros, meus e teus, ante o tempo implacável, e não mais existirá no futuro, ainda que ontem fosse tão forte e de grande claridade, saiba, sinta, provo-te, que hoje ele vive em constante, ocupa-me, preenche-me o pensamento do levantar-me ao adormecer, em fogo permanente, ao teu lado ou tua ausência.
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Escrevo-te, ousadamente, por que não quero, nunca, que em um dia de tarde fria, lágrimas possam verter até teus lábios corados. Mas se isso ocorrer – e essa é a minha maior razão de escrever-te -, quando não te restar ninguém a quem buscar bálsamo às tuas dores, servilmente, ajoelhado, ofereço-te minha vida, pra sempre, pra sempre, pra sempre...